sábado, 9 de janeiro de 2010

- Já vi : Paranoid Park


Paranoid Park

A vaguear por blogs amigos (Split Screen), descobri esta enorme preciosidade, até àquele momento apenas elogiada mas nunca vista por mim, de autoria de Gus Van Sant, e, já que vi Milk (crítica aqui), vejo Paranoid Park.

Alex (Gabe Nevins) é um skateboard que, confuso com tudo à sua volta, decide um dia visitar o Paranoid Park e, desde uma dessas noites do Paranoid Park, a sua vida mudou. 
Sem exactamente saber o que se passou nessa noite, todos os skaters da escola de Alex foram chamados a fim de um homicídio em que uma pessoa que frequentava Paranoid Park poderia ser um potencial suspeito. Agora, Alex, irá desvendar aos poucos e poucos o que aconteceu nessa noite, dividido por uma ténue linha ente o real e o irreal, Alex irá confundir-se e confundir-nos a fim de nós(e ele próprio) descobrir a verdade dessa noite. 
 


Gus Van Sant cria aqui uma obra sobredotada de um poderio emocional e que trespassa para o espectador brilhantemente. A câmara gira na perspectiva de Alex e apenas de Alex. A história passa-se com cenas passadas com cenas presentes com uma potente narrativa mas com acções contraditórias. O filme não se expressa por palavras, ou melhor, as duas histórias, uma delas expressa pela narrativa e a outra pelo silêncio transparente que flutua no vácuo de Alex e das pessoas em seu redor. Banda sonora habilmente concebida. O argumento? Magistralmente concebido, com retrocessos e avanços e mesmo assim não perde a lógica nem o seu propósito conseguindo pregar o espectador e ao mesmo tempo levá-lo a reconstruir cenas passadas mas com outras acções.
 


Até o poster se sobressai, com tiras que podem parecer os frames da história em que cada pedaço sozinho não tem sentido mas quando se junta forma algo brilhante e majestroso, além da clara evidência ao mundo de Alex e da comunidade dos skates através das tiras que podem representar as tábuas de skate, e lá atrás? uma figura claramente exposta - desfocada, apenas com um propósito, focar a câmara em Alex e na sua paranóia que poderá(ou não) ter acontecido, Gus Van Sant tem aqui a sua melhor obra(das que vi) e apresenta-se com um resultado final majestroso e sublime e com um particular assunto - o filme acaba como começa e começa como acaba e assim, Paranoid Park nunca poderia algum dia ter sido melhor feito através da não-mudança e da dúvida.

Paranoid Park não é compreendido por todos nem vai sentir-se em todos, mas eu penso que o compreendi e senti-o e essa é a verdadeira essência do Cinema, até que ponto os filmes nos tocam?(!)


Tagline: "I just feel like there's something outside of normal life. Outside of teachers, breakups, girlfriends. Like, right out there, like outside - there's like different levels of... stuff"






11 comentários:

Tiago Ramos disse...

Um dos meus preferidos do realizador. Um universo que remete para Dostoiévski, um ensaio contemporâneo sobre a culpa, o crime e o castigo.

bruno knott disse...

opa, tudo certo?

esse filme é muito bom... posso dizer que também senti esse filme!

abraços!!

thicarvalho disse...

Nekas achei um bom filme sim, mas que cansa um pouco do meio para o fim, apesar da boa trama. Na parte técnica realmente o filme é impecável e a história mostra bem a realidade de alguns jovens. Bom filme, mas q como vc bem disse, não prende a atenção de todos. Grande abraço.

Visistem www.cinemaniac2008.blogspot.com

Bruno Cunha disse...

Tiago, concordo. O ambiente está muito ben (re)criado e caracterizado.

bruno knott, ainda bem que o sentiste!

thicarvalho, é talvez esse o maior problema mas também uma grande virtude do filme - até que ponto nos chega?

Abraços

Flávio Gonçalves disse...

Sim, um filme magnífico. Gus Van Sant é, actualmente, o meu realizador preferido, e não é por menos. A forma como capta a adolescência, como reflecte sobre tudo... enfim! Se gostaste do Paranoid Park e do Milk, gostarás também do Elephant (precedente ao Paranoid, vencedor da Palma de Ouro e do prémio de melhor realizador em Cannes), do Gerry ou do Last Days. Os primeiros filmes do realizador valem também a pena, apesar de diferentes.

Abraço!

Bruno Cunha disse...

Flávio, obrigado pela sugestão, já tinha conhecimento dessa saga que se transpõem brilhantemente para a tela.
Quanto a Paranoid é um filme excelente!

Abraço

Gema disse...

Tenho este filme na "pilha" para ver. Visto que lhe das 9.5, parece-me que me espera um excelente filme.
Bjks

Jackson disse...

Bem, devo dizer que me encontro supreendido por lhe teres uma nota tão alta. Para mim, é dos melhores de Gus Van Sant - o grande realizador do cinema alternativo contemporâneo, mas ainda assim há outros que lhe fazem par, como Mala Noche, Gerry ou Milk. Falta-me apenas ver A Caminho de Idaho para ver os indispensáveis da sua filmografia.

Abraço!

Bruno Cunha disse...

Gema, vê, embora as pontuações e os gostos sejam meramente subjectivos, Paranoid Park é um excelente filme e que dá que pensar mais um para a pilha :)

Jackson, surpreendido? Eu vi dois filmes de Van Sant e dei aos dois 9.5 e é claro que seguirei a sua filmografia pois são poucos os realizadoes que com dois filmes conquistem-me duas vezes.

Abraço

Sweet Summer disse...

Dos poucos filmes que visionei, revelou-se um candidato a um dos meus filmes preferidos. É absolutamente fantástico, dificil de compreender mas mesmo assim possuidor de um argumento potentíssimo. A transição e repetição das cenas é brutal. Nekas,os 9,5 são bem merecidos...
Continuação

Bruno Cunha disse...

Sweet Summer (ou Carlinha), eu tinha-te dito que ias gostar, é fabuloso.
A sua (in)compreensão é deveras magnífica...

Abraço apertadinho!